ESTUDO PROPÕE NOVA HIPÓTESE PARA EXPLICAR A OCUPAÇÃO DO LITORAL SUL DO BRASIL HÁ 2 MIL ANOS

Pesquisadores brasileiros vinculados ao Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) estão reescrevendo um capítulo importante da história da ocupação humana do litoral brasileiro.
Em artigo publicado na revista PLOS ONE, uma equipe com cientistas de Santa Catarina, sul do Brasil e outros países (EUA, Bélgica e França) mostra que os “Sambaquis” que construíram a Galheta IV, sítio arqueológico em Laguna . (Santa Catarina), que não foi substituída pelos ancestrais dos Jê do Sul, como se pensava anteriormente.
Como explica o artigo, monturos são monturos que são “evidências de ocupação de longo prazo”. Eles consistem em camadas de restos de crustáceos, ossos humanos e animais, restos de plantas e lareiras, ferramentas de pedra ou osso e outros detritos. Eles foram usados para sepultamento e proteção, bem como para demarcação de uma área.
“Havia muito menos contato entre aqueles sambaquieiros e as populações proto-Jê, como os chamamos, do que se pensava. . pessoas que moravam no mesmo local”, diz o professor do MAE-USP e penúltimo autor André Strauss.
A teoria de que um grupo étnico substituiu outro surgiu em parte porque locais como a Galheta IV marcam o fim do edifício intermédio da concha. Os cacos cerâmicos encontrados nas últimas camadas de perturbação nessas áreas lembram cerâmicas ancestrais dos povos indígenas Jê Kaingang e Laklãnõ-Xokleng do sul.
Essa é mais uma razão para a antiga, hoje desmentida, crença de que os construtores Sambaqui que viviam no litoral foram substituídos por gente do interior de Santa Catarina.
“Não sabemos por que a construção do sambaqui parou. Possíveis explicações são o contato com outras culturas e fatores ambientais como mudanças no nível do mar e na salinidade, que podem ter causado uma diminuição na oferta de conchas e, consequentemente, de mariscos matérias-primas”, diz Jéssica, primeira autora do artigo. Mendes Cardoso. A pesquisa foi realizada enquanto ele fazia doutorado no MAE-USP e na Universidade de Toulouse, na França.
Cardoso reanalisou o material coletado pelo MAE-USP e pelo Grupo de Pesquisa em Educação do Patrimônio Cultural e Arqueologia (GRUPEP) da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) entre 2005 e 2007 como os esqueletos de quatro indivíduos. foi escavado.
Ao fazer isso, ele determinou isótopos de estrôncio, carbono e nitrogênio, e determinou que peixes e outros frutos do mar representavam 60% da dieta do grupo. A análise dos ossos também mostrou que os indivíduos não foram enterrados após a cremação, praticada pelas populações proto-Jê meridionais. comum nos sambaquis. Ao contrário de outros locais, também continha ossos de aves marinhas, como albatrozes e pinguins, bem como ossos de mamíferos, como focas.
“Esses animais não faziam parte de sua alimentação diária, mas eram consumidos sazonalmente durante a migração ou podiam ser mantidos localmente. Provavelmente faziam parte de seus rituais fúnebres, já que ninguém morava no local”, diz Cardoso. Por exemplo, havia 12 albatrozes na unidade funerária.
A nova datação revelou que o local é mais antigo do que se pensava anteriormente, estimando-se que tenha sido construído e visitado entre 1.300 e 500 anos atrás. A estimativa anterior era entre 1170 e 900 anos atrás.
A Pedra de Roseta
A análise da cerâmica encontrada no sítio arqueológico também sugere que o proto-Jê pode ter sido simplesmente uma influência cultural adotada pelos construtores de conchas. Dos 190 fragmentos de cerâmica ali escavados, 131 eram grandes o suficiente para serem examinados e analisados.
“A cerâmica é muito diferente em formato e decoração daquela encontrada no Planalto Catarinense, mas semelhante a outros sítios do litoral norte e sul do estado, indicando que esses objetos podem ter sido transportados de costa a costa . São os vestígios cerâmicos mais antigos encontrados no estado, com 1.300 anos, enquanto as cerâmicas encontradas nas montanhas têm aproximadamente 1.000 anos”, diz Fabiana Merencio, coautora do artigo.
Durante o estudo, ela era Ph.D. candidata ao MAE-USP. Atualmente é pós-doutoranda na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
“Então descobrimos uma nova manifestação da materialidade humana no litoral há mil anos, na forma de membranas de conchas, substituindo lugares onde não havia conchas de moluscos, mas sim cerâmicas. Este lugar é a pedra de Roseta. Ajuda podemos entender essas conexões”, diz Strauss.
Uma nova equipe de pesquisadores retorna à área para estudar um novo sítio (Jabuticabeira II) como parte de um novo projeto liderado pela professora Ximena Villagran do MAE-USP.
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