A RAINHA CROCODILO: SOBEKNEFERU E SUA ASCENSÃO AO TRONO DO EGITO

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Mais de 400 anos antes da grandiosa Hatshepsut e vários séculos antes da famosa Cleópatra VII, o trono egípcio foi ocupado por uma mulher cujo nome homenageava o deus crocodilo protetor do Nilo. Sobekneferu, que significa “Beleza de Sobek”, governou o Egito entre 1760-1756 a.C., encerrando a 12ª dinastia e marcando a história como a primeira mulher oficialmente reconhecida com o status de faraó. Sua trajetória até o trono e seu reinado, embora curto, representam um marco na história do Egito Antigo e um exemplo extraordinário de liderança feminina em um mundo dominado por homens.

Sobekneferu era filha do faraó Amenemhat III, um dos mais importantes governantes da 12ª dinastia, conhecido por suas grandes obras e pelo período de prosperidade durante seu reinado. Inicialmente, não era ela quem estava destinada a ocupar o trono. Sua irmã mais velha, Neferuptah, era a herdeira designada, mas faleceu antes de seu pai, abrindo caminho para uma sucessão que acabaria chegando a Sobekneferu. Após a morte de Amenemhat III, quem assumiu o trono foi Amenemhat IV, cuja relação exata com Sobekneferu permanece um mistério para os egiptólogos. Alguns acreditam que eles poderiam ter sido irmãos e também marido e mulher, seguindo a tradição de casamentos reais entre irmãos para manter a pureza da linhagem real.

A ascensão de Sobekneferu ao trono ocorreu após a morte de Amenemhat IV, que governou por aproximadamente nove anos. As circunstâncias exatas que levaram Sobekneferu a se tornar faraó ainda são objeto de debate entre os estudiosos. Uma das teorias sugere que Amenemhat IV não deixou herdeiros masculinos para continuar a linhagem, o que teria aberto espaço para que Sobekneferu assumisse o poder. No entanto, há registros que indicam que os dois primeiros faraós da 13ª Dinastia, Sobekhotep I e Sonbef, são mencionados como filhos de Amenemhat IV, o que levanta a possibilidade de que Sobekneferu possa ter sido uma usurpadora do trono. Independentemente das circunstâncias, o fato é que ela conseguiu assumir o título de faraó e ser reconhecida como tal, algo extraordinário para uma mulher naquela época.

O reinado de Sobekneferu durou aproximadamente três anos e dez meses, segundo os registros históricos. Embora tenha sido um período relativamente curto, ela deixou sua marca na história do Egito Antigo. Durante seu governo, Sobekneferu realizou importantes obras arquitetônicas, incluindo a expansão do complexo funerário de seu pai, Amenemhat III, conhecido hoje como o Labirinto de Herodoto. Também promoveu construções significativas em Herakleopolis Magna, demonstrando sua preocupação com a continuidade das tradições e com a manutenção das estruturas religiosas e políticas do império.

Um dos aspectos mais interessantes sobre Sobekneferu é a forma como ela lidou com a questão de gênero em sua posição de poder. Diferentemente de outras mulheres que governaram o Egito posteriormente, como Hatshepsut (que frequentemente se fazia representar com atributos masculinos, incluindo a barba postiça tradicional dos faraós), Sobekneferu parece ter encontrado um equilíbrio único. Embora existam representações dela vestindo trajes masculinos, o que gerou especulações entre os historiadores, ela nunca deixou de empregar sufixos femininos em seus títulos. Isso sugere que, longe de querer se fazer passar por homem, Sobekneferu buscava legitimar seu papel como governante feminina, ao mesmo tempo em que adotava símbolos tradicionalmente associados ao poder faraônico.

As evidências arqueológicas sobre Sobekneferu são relativamente escassas, mas significativas. Seu nome consta em listas de faraós produzidas pelos próprios egípcios, incluindo o Cânone de Turim, um importante documento que registra os governantes do Egito. Na Núbia, há um registro escrito que menciona uma enchente ocorrida durante o terceiro ano de seu reinado. Foram encontrados selos reais com seu nome e algumas estátuas sem cabeça que, pelas inscrições e características, foram identificadas como representações dela. Colunas com seu nome também foram descobertas em um templo, confirmando seu status como governante legítima do Egito.

Curiosamente, o nome de Sobekneferu não foi apagado dos registros históricos, como aconteceu com outros governantes ao longo da história egípcia. Essa prática de eliminar nomes e vestígios de faraós anteriores era comum no Egito Antigo, especialmente quando se tratava de governantes considerados ilegítimos ou que haviam caído em desgraça. O fato de seu nome ter sobrevivido em documentos oficiais e monumentos sugere que seu reinado foi aceito e respeitado, tanto por seus contemporâneos quanto pelos governantes que a sucederam. Isso é particularmente notável considerando que ela era uma mulher em uma posição tradicionalmente ocupada por homens.

A história de Sobekneferu permaneceu praticamente desconhecida para os egiptólogos até o final do século XIX, quando seu nome foi encontrado em uma antiga lista contendo mais de 223 faraós. Desde então, as descobertas arqueológicas têm gradualmente revelado mais detalhes sobre sua vida e reinado, embora muitas questões ainda permaneçam sem resposta. Seu túmulo, por exemplo, ainda não foi definitivamente identificado, embora haja registros de um construtor contemporâneo mencionando que o túmulo de Sobekneferu estava sendo construído. Uma pirâmide incompleta foi sugerida como possivelmente pertencente a ela, mas não há evidências conclusivas.

O legado de Sobekneferu vai além de suas realizações como governante. Ela representa um importante precedente histórico como a primeira mulher oficialmente reconhecida como faraó, abrindo caminho para outras mulheres que viriam a governar o Egito nos séculos seguintes. Sua história é um testemunho da complexidade e da flexibilidade da sociedade egípcia antiga, que, apesar de suas estruturas patriarcais, permitiu que uma mulher assumisse o mais alto cargo político e religioso do país. Em um mundo onde o poder era quase exclusivamente masculino, Sobekneferu conseguiu não apenas ascender ao trono, mas também ser lembrada pela história como uma governante legítima, cujo nome e feitos sobreviveram ao teste do tempo.

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